La Dolce Vita, Resenha

Katharinne Magalhães
3 min readOct 27, 2020

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La Dolce Vita (A doce vida, 1960, Itália, p&b, drama.)

Direção: Federico Fellini, com Marcello Mastroianni, Anita Ekberg.

Considerada a obra prima máxima de Fellini, La Dolce Vita manifesta com expressividade o dualismo que o italiano vê no mundo: o melhor trabalho de Fellini alcança algo de que a maioria dos cineastas nunca chega perto, capturando o caos e beleza da vida, em todos os seus quesitos. Fama versus decadência, beleza física versus morte e violência: a extensa obra em preto e branco transfere a sensação mundial sobre a decadência moderna em que um jornalista, (alter ego de Fellini, Marcello Mastroianni) brinca na Fontana di Trevi com Anita Ekberg em seu ápice de sensualidade, talento e carisma, que apresenta a personagem sylvia, que tem tudo o que uma pessoa pode desejar sendo tão rica e famosa, no entanto, sua vida pessoal está ruindo agressivamente.

Mesmo sendo uma obra contrastante feita em preto e branco, é possível para o público ver, de maneira quase palpável, a vida e cor que a temática e direção do filme transbordam, com um movimento de câmera dinâmico que apresenta a vida pelos olhos do exagero: sempre ou muito boa, ou muito decadente.

Glamouroso e carregado de informação visual, capturando o zeitgeist da década de 60: eternamente uma era de contrastes nas artes em geral (como, por exemplo, os Beatles sendo punidos por serem vistos como sem pudor ao cantarem o trecho “quero passar uma noite contigo” num programa de TV aberta versus o The Velvet Underground abordando com toda fúria, cacofonia auditiva e experimentalismo possíveis com o contralto potente de Nico em temas como sadomasoquismo, abuso de drogas e despersonalização. No Brasil a dualidade foi semelhante na mídia e arte geral, vide Tim Maia no fim da década de 60), o materialismo em expansão do pós-guerra e a sensação de vazio consequente desse capitalismo recém reinaugurado. Fellini trabalha com a ideia do maniqueísmo inesquecível da era através da voluptuosidade dos corpos dos atores de maneira a passar o erotismo e o conceito da beleza vital, e também a perseguição e a falsa sensação de liberdade , onde se está sempre sendo observado, julgado e punido. Trata-se de um longa sobre tendências vistas como atuais até hoje, na idade contemporânea: trata-se do mito da celebridade, que vê-se hoje na presença de subcelebridades como influencers e nós, usuários de redes sociais, donos de nosso próprio altar, na busca pela felicidade, do consumismo material e de tudo mais faz parte do cotidiano pessoal da maior parte das pessoas no mundo (do primeiro ao terceiro) do capitalismo tardio.

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Written by Katharinne Magalhães

artista multimídia freelancer, cyber xamã nas horas vagas CAAD UFMG I must not fear. Fear is the mind-killer.

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